Desmatamento 
do Cerrado no ano de 2019

No período de agosto de 2018 a julho de 2019, foram desmatados 648.340 hectares do Cerrado. O estado que mais desmatou esse bioma foi Tocantins, que suprimiu 149.561 hectares de vegetação nativa e Formosa do Rio Preto/BA foi o município que mais desmatou, com 21.380 hectares. Foram 52.134 desmatamentos, com área média de 12,43 hectares - sendo a maior a supressão individual no município de Cocalinho, Mato Grosso, com 3.345,25 hectares .

Em comparação ao ano passado (663.409 ha desmatados), houve uma redução de 2,27% no total desmatado. Desde 2017, o desmatamento do Cerrado varia entre 650 e 750 mil hectares, o que resulta em uma média de 663 mil hectares - que corresponde a 0,6% do remanescente do bioma. Caso essa tendência se mantenha até 2050, restará cerca de 43% (873 mil hectares) de “Cerrado de pé”. Do total do desmatamento do Cerrado em 2019, 62% ocorreu no MATOPIBA (acrônimo para: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), zona intensamente explorada pelo setor agropecuário, onde restam os maiores fragmentos de cerrado. 
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 Abaixo segue o ranking dos maiores desmatadores em 2019 por: a) estados em valores absolutos; b) municípios em valores absolutos; c) municípios em valores relativos; d) Unidades de Conservação e e) Terras Indígenas.

a) Os cinco estados que mais desmataram, em valores absolutos, foram:
 1° Tocantins: 149.561 ha (23,07%)
 2° Maranhão: 130.932 ha (20,19%)
 3° Mato Grosso: 93.059 ha (14,35%)
 4° Bahia: 83.237 ha (12,84%)
 5° Goiás: 65.132 ha (10,05%)

b) Os dez municípios que mais desmataram, em valores absolutos, foram:
 1° Formosa do Rio Preto (BA): 21.380 ha
 2° Correntina (BA): 11.977 ha
 3° Balsas (MA): 10.867 ha
 4° Uruçuí (PI): 8.588 ha
 5° Cocalinho (MT): 8.206 ha
 6° Santa Rita de Cássia (BA): 7.751 ha
 7° Baixa Grande do Ribeiro (PI): 7.203 ha
 8° Paranã (TO): 6.844 ha
 9° Rosário Oeste (MT): 6.619 ha
 10° Jaborandi (BA): 6.350 ha

c) E os dez municípios que mais desmataram, em valores relativos ao tamanhos dos respectivos municípios, foram:
 1° Tupiratins (TO): 2.923 ha (03,26%)
 2° Damianópolis (GO): 1.132 ha (02,73%)
 3° São João do Soter (MA): 3.577 ha (02,49%)
 4° Lagoa do Tocantins (TO): 2.178 ha (02,39%)
 5° Governador Luiz Rocha (MA): 876 ha (02,35%)
 6° Afonso Cunha (MA): 834 ha (02,25%)
 7° Magalhães de Almeida (MA): 815 ha (01,89%)
 8° Santa Tereza do Tocantins (TO): 995 ha (01,84%)
 9° Sítio Novo (MA): 5.699 ha (01,83%)
 10° Fortuna (MA): 1.244 ha (01,79%) 
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d) As cinco Unidades de Conservação mais desmatadas foram:
 1° APA do Rio Preto (BA): 14.577 ha (28,18%)
 2° APA Ilha do Bananal/Cantão (TO): 12.577 ha (24,31%)
 3° APA Bacia do Rio de Janeiro (BA): 6.743 ha (13,04%)
 4° APA das Cabeceiras do Rio Cuiabá (MT): 4.698 ha (09,08%)
 5° APA Pouso Alto (GO): 2.277 ha (04,40%)

e) As cinco Terras Indígenas mais desmatadas foram:
 1° Porquinhos dos Canela - Apãnjekra (MA): 1.248 ha (30,06%)
 2° Bacurizinho (MA): 693 ha (16,68%)
 3° Krikati (MA): 428 ha (10,30%)
 4° Wedezé (MT): 371 ha (08,95%)
 5° Menkü (MT): 289 ha (06,96%)

Foram desmatados 51.731 ha em Unidades de Conservação e 4.152 ha em Terras Indígenas. Os dados demonstram acréscimo de 15,04% nas áreas de UCs e uma redução de 15,25% nas áreas de Terras Indígenas em relação ao ano passado.

2 - Avaliação

Apenas 6,5% dos remanescentes de Cerrado estão nas Unidades de Conservação. Desses, apenas 3,2% estão em Unidades de Conservação Integral - que de fato garantem a manutenção do Cerrado, junto às Terras Indígenas. Já os remanescentes em Terras Indígenas correspondem a 4,2% do bioma. Portanto, além dos territórios de comunidades tradicionais, apenas 10,9% do “Cerrado de Pé” está protegido.

Outro elemento relevante na avaliação do desmatamento do Cerrado são as Reservas Legais. As propriedades rurais no bioma devem manter a vegetação nativa em uso sustentável em ao menos 20% de suas áreas, a depender de critérios como o tamanho da propriedade, distribuição das Áreas de Preservação Permanente (APP) e localização em área de transição. Cerca de 16% do Cerrado é declarado como reserva legal, o que não garante que se trate de remanescentes de vegetação nativa. Além dessas áreas, as APPs protegem margens de rios, topos de morros, encostas e áreas úmidas, somando 3,3% do bioma. Assim, existem:
  - 16% em áreas de reserva legal (aproximadamente);
  - 3,3% de Área de Preservação Permanente (aproximadamente);
  - 4,2% de Terras Indígenas;
  - 3,2% em Unidades de Conservação;
  - 26,7% de total estimado de área sob alguma proteção contra o desmatamento.

Atualmente, 41% do Cerrado está ocupado por agropecuária, sendo 29,5% por pastagens e 11,7% por agricultura. A fronteira agrícola se expande sobre os últimos remanescentes de Cerrado não protegidos na região do MATOPIBA e Mato Grosso, ocupando especialmente as chapadas e áreas menos declivosas, mais aptas à produção mecânica. Isso leva à perda de ecossistemas singulares, perdas significativas na disponibilidade de água e conflitos com comunidades. Por fim, restam apenas os cerrados em áreas íngremes, inviáveis para a produção agropecuária. Está ocorrendo um aumento dos municípios com crise hídrica e os conflitos em terras indígenas e comunidades tradicionais têm se agravado. 

O montante desmatado no ano de 2019 segue o ritmo de declínio esperado na exploração de recursos. Tendo em vista que as principais áreas mais aptas à ocupação agropecuária já foram ocupadas e que as áreas sob alguma restrição somam cerca de ¼ do bioma, a expansão da ocupação tende a encontrar o patamar entre 5 mil e 7 mil km² por ano - como tem sido o caso dos últimos 4 anos. Em uma analogia simples, comemorar o montante desmatado em 2019 no Cerrado é como se um homem careca comemorasse que perdeu apenas 60 fios de cabelo dos poucos que lhe restam a perder.

Dentre muitos fatos importantes, há ao menos dois que são preponderantes sobre a dinâmica do desmatamento do Cerrado nestes últimos anos. São eles: a) para a produção agropecuária não é necessário desmatar mais áreas e sim ocupar as pastagens degradadas que variam de 24% (12,4 milhões de hectares) a 35% (18,4 milhões de hectares) do total das pastagens; b) 95% do desmatamento no país em 2019 foram ilegais, sem autorização de supressão, portanto, há graves limitações no planejamento territorial e no comando e controle do bioma.

3- Referências

Dados de desmatamento - INPE - Prodes
Dados de Unidades de Conservação - Françoso et al 2015
Pastagens degradadas - Andrade et al 2015
Reserva legal e APP - dados processados do SICAR
Desmatamento Ilegal - MAPBiomas
Uso do Solo - Mapbiomas 
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